28 de junho de 2013

Sem Palavras



Escrever não é apenas gravar palavras. Escrever até por vezes é menos em palavras o que a escrita permite que seja nas palavras que urgem, sonoras, gritantes no pensar e que até chegarem braço afora até aos dedos se perdem, modificam, desvanecem, torturam-se, mudam, transformam-se, modificam-se, até desaparecem nas frases erigidas e que se pensam terminadas.
É uma vasta liberdade que vicia e a que se regressa com vontade de mais. Quem escreve por amar, de escrever não se sacia

Um poema não é apenas empilhar frases de curtas palavras com ou sem métrica.
Poema é paixão gravada com gestos ou letras!
Poema é suspiro, arfar de respiração, rufar de tambores ou silencio e calma, tanto de placidez como raiva e sangue a jorrar por gritos ou carícias de luar na pele que ferve desejo luxuriante e toque real de carne. Ou um gelo brilhante, um frio branco e ofuscante. Um canto onde a chuva caia e a alma levite.

Escrever não é apenas desenhar letras ao correr da vontade. Escrever até é por vezes menos de querer do que no papel ou noutro qualquer lado seja o que for que fique gravado. Escrever por fácil que seja de tormenta ou dilúvio que jorre das palavras, é tanto de harmonioso e simples como de trabalhoso e suado. Aridez que seca nos lábios o devir da paixão. Nascente cristalina e fresca mas prenhe de esforço e transpiração.
Entre as facas que se espetam na garganta e as flores que jorram das mãos, escrever é uma aventura de sensações que delícia e extasia. Entanto imagina dores onde elas não existem.

Um poema não é apenas um empilhar de palavras, poemas são escritas de alma. Poesia é sentir, saber dizer o que não se ouve, escrever o que não é lido.
Escrever é tanto preencher e moldar volumes como dissecar, descarnar até expor os ossos, numa espécie de procura anatómica. Uma incessante busca que por vezes camufla e adorna. A busca que esconde. A ilusão de verdade que faz truques com a ficção.
Com ou sem métrica, repito: é paixão.


2013

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