Escrever não é
apenas gravar palavras. Escrever até por vezes é menos em palavras o que a
escrita permite que seja nas palavras que urgem, sonoras, gritantes no pensar e
que até chegarem braço afora até aos dedos se perdem, modificam, desvanecem,
torturam-se, mudam, transformam-se, modificam-se, até desaparecem nas frases
erigidas e que se pensam terminadas.
É uma vasta
liberdade que vicia e a que se regressa com vontade de mais. Quem escreve por
amar, de escrever não se sacia
Um poema não é
apenas empilhar frases de curtas palavras com ou sem métrica.
Poema é paixão
gravada com gestos ou letras!
Poema é
suspiro, arfar de respiração, rufar de tambores ou silencio e calma, tanto de
placidez como raiva e sangue a jorrar por gritos ou carícias de luar na pele que
ferve desejo luxuriante e toque real de carne. Ou um gelo
brilhante, um frio branco e ofuscante. Um canto onde a chuva caia e a alma
levite.
Escrever não é
apenas desenhar letras ao correr da vontade. Escrever até é por vezes menos de
querer do que no papel ou noutro qualquer lado seja o que for que fique
gravado. Escrever por fácil que seja de tormenta ou dilúvio que jorre das
palavras, é tanto de harmonioso e simples como de trabalhoso e suado. Aridez
que seca nos lábios o devir da paixão. Nascente cristalina e fresca mas prenhe
de esforço e transpiração.
Entre as facas
que se espetam na garganta e as flores que jorram das mãos, escrever é uma
aventura de sensações que delícia e extasia. Entanto imagina dores onde elas
não existem.
Um poema não é
apenas um empilhar de palavras, poemas são escritas de alma. Poesia é sentir,
saber dizer o que não se ouve, escrever o que não é lido.
Escrever é
tanto preencher e moldar volumes como dissecar, descarnar até expor os ossos,
numa espécie de procura anatómica. Uma incessante busca que por vezes camufla e
adorna. A busca que esconde. A ilusão de verdade que faz truques com a ficção.
Com ou sem
métrica, repito: é paixão.
2013
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