Então do amor, que é feito dele?
Mais que se procure, achar é sempre sentir quando ele nos
falta e carpir são sobras honestas, por demais aperaltadas, mas nada vale a
pena como ele nos faz desesperar.
A rapariga chora abandono e o rapaz troca de sentimento.
Logo depois chocalha a cabeça carente. Outro rapaz tem vontade de se atirar de
encontro às paredes porque ela disse, gosto de ti mas não te amo, vamos dar um
tempo. Voltar atrás é intentar quanto o outro é fraco. Demais.
Quem não fraqueja perante a paixão? Quem não sente as pernas
bambas de amar? Há quem não vacile, há quem não hesite em continuar
contabilizando gestos e movimentos como se por isso conseguisse atingir o alvo
de querer amar. Mas isso é de quem não se inclui no silêncio do prazer de
estar, existir, estamos todos na corrida para a eternidade mas de eternos, não
temos nada.
Tarde pensou, se o fez sequer, agora inventa um modo de se
esquivar. Talvez conte com a rapariga a desesperar, chorando pelos cantos a
contar às amigas o desaire... só que não vai ser assim o melhor modo de lá
chegar.
E no entanto há quem nesse poço se queira afogar. Há
raparigas que jogam bem e rapazes obtusos que são jogados, apesar de
arrogantes, são arrastados pelo tabuleiro da situação.
Há sucessos garantidos, grandes relações com bastantes dados
adquiridos, isto é uma verdade irrefutável, por mais contra que esteja, não
interessa, é conseguido.
Felizes? Realizados? Sim, tantos, pelos vistos! Onde ficou
então o amor no meio disto, pergunto? De certeza escapou de ser considerado
pois nunca foi sentido!
E quem sou eu para refutar tais factos que produzem valentes
resultados?
O que apenas digo acerca disso é tão simples como esquecer uma
vírgula ou até um acento. Não menosprezando quem não lê. Sim, porque sabem ler
mas, talvez tenham aversão às palavras em escrita, talvez dê muito trabalho,
ler, reler, mais fácil é dizer. E quem afirma disto, como, “não vou estar para
aqui a ler isto porque me dá sono”, e depois apressam-se a comprar o matutino
jornal desportivo que devoram num ápice, assim que podem, e elas, dizendo o
mesmo e que sorvem, absorvem e até regurgitam, revistas de programação
televisiva com resumos de profícuas telenovelas e mini séries, outras de coscuvilhices
com a vida dos outros que aparecem fotografados como famosos. Que fazer? Que
dizer? Se calhar falhei, não sei.
Pois, e do amor, quem sabe?
No entanto, era acerca disso que se falava, e mesmo com
viagens, tudo se resume ao pequeno estado, mero facto de argumentar contra o
próprio, escusado, desejando nunca ter feito, agido como tal, vexado.
A rapariga ficou sozinha, não foi trocada, não, ninguém
troca ninguém. O rapaz deixou-a quando lhe tinha depositado amor, pensava ela,
ora ele… talvez nada. O outro amou… mas esqueceu-se de sentir qual o amor dela.
E para ela, isso não era nada.
Ora o amor pode ter lados mas não tem só dois. Mas o amor
não é uma figura, não é um objecto, tem espaços. O amor pode ter polos e até
pode existir sem nada ter. O amor tanto pode ser uma páscoa como um carnaval,
um luar de Agosto ou sol de Outono. Estamos todos na corrida para a eternidade
mas de eternos, nada temos. E do amor? Acho que devemos senti-lo, porque dele,
afinal, não sabemos nada.
2005