25 de janeiro de 2013

Via



Esperando que um breve acto de amabilidade me traga um sorriso ao ouvido, encolho-me na ilharga de um beco, em tumulto comigo próprio, atabalhoado. Desejo que não me aconteça nada que faça de conta estar bem porque não é nada, desejo que o fundo deste beco seja apenas mais uma esquina virada.
Caminho para fora da sombra na esperança que a luz me traga aquela voz límpida como a chuva de cristal que molhou os vidros da minha casa. Que não fica neste beco, não fica por aqui para estes lados, mas não me larga.
Por baixo dos meus pés ecoa o chão que eu pensava sólido, de macadame e com camadas de pedra intervaladas com terra. Supostamente uma estrada.
Espero que o meu desejo apenas seja isso mesmo, uma vontade ou aspiração, que nada me aconteça na ilharga dos passos que faço no que dou mais para os outros que para mim próprio e que não é o facto de sentir que afinal, realmente, não somos nada.
Caminho para fora da sombra na esperança de continuar, mais nada. Com quem, só, sei lá, acho que é uma teimosia continuar vivo e já não me detenho a perguntar. Sei tanto disso como já o senti como se diz que não sabemos nada. Que não fico mesmo estando parado é o que tento fazer sempre que me reparo.
Por baixo dos meus pés por vezes a chuva molha-me até a alma, por baixo dos meus pés acontecem caminhos que não dou conta mas que são como são porque os faço.


Agosto - 2005

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