27 de dezembro de 2012

Um dia atrás




  Ontem amanheci diferente.
  Só dei conta quando me apercebi que os meus passos estavam mais leves,   soltos, singulares do costume.
  Respirei fundo e senti-me límpido como o céu nas alturas em que me saudava num azul suave e translúcido nos dias em que chovera de noite e a carga das nuvens se esvaíra finalmente. Mas não, nenhuma chuva tinha caído e no entanto o astro estava limpo. O ar suave e puro.
  No meu peito apenas as tenazes da saudade me fizeram ansiar o tempo até chegar perto dela. Um saudar "bom dia" foi suficiente para saber que não estava dormente. Não sonhara, fora verdade, por isso me sentia mudado, diferente, como transformado.
  Dei por mim a sorrir para ninguém, sem estar a olhar para lado algum, sem ver nada porque estava perdido num voo sem coordenadas. “Senti-me dirigir a ti, mais nada!”
  Em redor tudo emergia e confluía no burburinho costumeiro e eu pouco ligava. Que estranho beneplácito ante tanta ferroada, tanto diz-que-disse, tanto mais de menos de mim que me tinha obrigado a ignorar e a criar uma rotina, um hábito.
  Senti de imediato a tua falta.
  Depois disseste, depois falaste, “vou ter contigo daqui a nada”, e o meu coração disparou rumo à verdade. Não que duvidasse, mas foi sentir que a tua e a minha eram a mesma ansiedade.
  Começámos um livro apócrifo e ao contrário. Com palavras. Com silêncios. Com imagens. Com inépcia e torvelinho. Com olhares e beijos, suspiros e anseios. Connosco… de amor feito.



2011