15 de dezembro de 2010

Nunca Palavras




    Desde que me olhei e me voltei a ver, de novo olhei, de novo me vi, voltei. De novo. Com ou sem peso, de novo encontrei o que afinal não tinha perdido, com ou sem peso olhei e vi, que sabia que estava vivo, que sabia que estava mas sempre com vontade de já ter ido. Então fiquei.
Desde que me olhei, reparei que desde que foste, tantas outras pessoas também já tinham ido da minha vida e eu continuava vivo. Desde que foste, pensei, o que te demorou tanto a ir, pois continuo vivo? Que foi que demorou tanto a magoar e a moer o que já podia ter sido? Então continuei.

    Cicatrizes não são tatuagens, cicatrizes são muito que já foi e agora apenas marcas, pegadas do tempo, inscrições talvez, mas apenas garatujas e nunca palavras.
As palavras são de quem escreve ou fala, as palavras são de quem e não nunca de como fazer sem dizer nada. Os gestos deixam marcas mas são atitudes, são vento, são vultos, sombras, areia, sedas ou escarpas. As palavras são desenhos, frágeis, delicados e cuidadosos, as palavras são linhas de letras com som e quem apenas pensa que as sabe ou sente mas não ouve, tanto sufoca como mata.
Quem não se ouve não sente as cicatrizes que causa. Tudo o que escreva ou diga pode parecer garatujas, mas certamente nunca palavras.

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