8 de novembro de 2010

Tempus fugit!



Sentia como tinha sido indiferente, naquele ou noutro qualquer dia, naquela manhã ou tarde ou noite.
A presença era por demais insistente e pesava-lhe com os dias, um após outro, cada vez mais ele sentira, um após outro dia que passava e julgava ser normal na vida eles serem assim, pesados, era a vida, era assim que de costume ouvia dizerem que era. Mas seria?
Não quisera pensar mais nada. Do silêncio nada obtivera, do silêncio tinha perguntas e depois, no silêncio, aquele silêncio pesado que causava desconforto e não era dele, nesse, ele retesou os músculos, todos e mais alguns músculos de todo o seu corpo e observou em seu redor. Suado, observou, cansado, conseguiu observar em volta as alegrias e as dores, as peripécias e os percalços dos demais e abdicou. Abdicou da paciência pois tanto o vento como a chuva lhe traziam o mesmo que a um qualquer, apenas ele sentia de modo diferente o desconforto de tantas borrascas, tempestades sem bonança, vorazes torniquetes de vontade e sôfregos ciclones de ser. Não ser. Ser? Ou perecer? Não! Ser, sim, ser!
Estranhamente, nem a linha do horizonte ou sequer as sombras do passado lhe pesaram. Fez por não esperar nada, estava cansado, em dívida para consigo e com o seu passado, pois o que chamava de paciência afigurava-se-lhe agora um mosto de passividade. Agora, toda a sua calma e racionalidade estava tal qual um pântano que se lhe agigantara ao redor da idade.


O moer das luzes naquela cave onde a humidade do tempo e o minar dos alicerces pelos bichos que matam o amor, ofereceram-lhe, de bandeja, ofereceram-lhe numa estúpida e ridícula bandeja, qual salva de prata corroída, uma triste iguaria sufocante que cheirava a desdenho e sabia a desprezo. Um paladar acre, doloroso, incoerente, o sol não se mexia e a lua petrificara mas nunca era bem noite ou dia, parecia que o vento ainda soprava mas os pássaros voavam de marcha-atrás.
A razão esmoreceu, colidiu com aquele jardim suspenso feito de pedra e cal azeda onde as palavras tinham emudecido fazia muito tempo e apenas restavam esquiços, esparsos, parcos rastos, riscos de alegrias breves dum antigamente tão estranho como distante.




Pois assim naquela manhã encontrou a marca da sua triste existência e vomitou, vomitou um liquido claro, azul translúcido, que não era água mas era como que um cristal brilhante e visceral como a essência de um fauno ou um rasto etéreo dum unicórnio sideral e puro.
Apaixonou-se por existir e respirou. Pensou que o coração já não lhe existia para ser amachucado e sofreu quando o viu de novo pisado. Que vórtice... tanto vendaval… Mas na marca das suas mãos reparou que o rasto era belo, fazia bem, deixava para trás amor e saudade e o sangue do seu coração espezinhado não era nada comparado com o que retinha em cada vez que suspirava.
Agora devolvia o sorriso a cada passada. Todos os medos e incertezas produto do fundo onde tocara mais não eram que subidas, com ou sem escadas, estupidamente certas como vagas. Estava acordado mas o sonho não terminava.

2009

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