22 de outubro de 2010

Dos dias





A poeira dos dias entope-me as narinas mas não me impede o respirar. Apenas não sei bem se estou pronto para recomeçar pois isso lembra-me o quanto já perguntei ao céu, à lua e ao sol… até a ti, rapariga: mostra-me como viver, como se de um poema fosse, como se de uma canção de amor se tratasse.
Depois obviamente que sei, num instante, que tais palavras são mesmo fruto do lirismo da paixão pois mais ninguém o sabe a não ser eu.
Mas isto é mesmo assim.
Ter cuidado com o que a boca diz nesta embriaguez é sempre difícil de tão delicados são estes assuntos do coração. O outro pode muito bem sentir mas ter sempre um discernimento de razão que não perdoe a loucura do sentimento. Nesse tufão, onde até parece ciúme que gera medo, insegurança e ansiedade, a emoção é tanta que surge a perigosa confusão de considerar o outro como ar que se respira, ao ponto de, se ele se afastar, aquele que é deixado sente-se vazio e perdido.
Não.
É bonito talvez como forma de expressão mas disso não deve passar.
Não.
Há que apenas saber compreender as almas intensas, fogosas, espontâneas e talvez megalómanas, há que não as tomar à letra nas suas tiradas quantas vezes exageradas e artísticas. São bonitas e parem sentimentos como autênticas obras de arte para admirar. Mas só para isso mesmo, respeitar e admirar. Pois a sua vida real também é singela, tal qual a de um comum mortal.

A poeira dos dias entope-me as narinas e é claro que por vezes me causa mal-estar. Sei lá em que perguntas me detenho ou demoro, sei lá se estou para recomeçar, sequer se parei ou continuo e vou a tropeçar. Sei que estou aqui e mais cedo ou mais tarde vou decerto ter ainda um ar mais leve para respirar... com ou sem poemas, de silêncios ou palavras, pinturas ou imagens, não interessa, pois nada é eterno. Nem o sentir. Nem o pensar.


2008

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